sexta-feira, janeiro 19, 2007

Cobertura da Mídia

Algumas pessoas dizem que a grande mídia brasileira (Veja, O Globo, Folha de São Paulo, TV Globo, etc.) atua como atua, muitas vezes desinformando, e oferecendo opinião mistura com notícia, por um interesse de classe. Como os donos de veículos de comunicação são patrões, se identificam com os interesses dos outros patrões, e com esta mistura de notícia com opinião, assumem o papel de representante político do patronato brasileiro em geral, diante da falta de um autêntico partido conservador. É uma interpretação possível e válida.
Há uma outra interpretação possível. O "causo" que pretendo relatar a seguir, estou escrevendo de memória, o que dará margem para equívocos, mas é mais ou menos o seguinte. Quando o Dr. Roberto Marinho estava por completar 90 anos, a TV Globo estava com uma programação laudatória ao fundador e presidente da emissora, e, entre muitos testemunhos fornecidos, um foi o do cartunista Chico Caruso, do jornal O Globo. Lá pelas tantas, entre palavras de louvor ao Dr. Roberto, ele informou que em certo momento, devido a algum problema com um produto, o Caruso havia feito uma charge criticando um fabricante de refrigerantes. O Dr. Roberto informou que a charge era muito boa, e dirigia-se ao incidente relatado nas notícias, mas... o jornal O Globo não deveria produzir charges que pudessem afastar os anunciantes, como seria o caso daquele fabricante de refrigerantes.
Contado o causo, vamos lembrar que a grande mídia foi veemente em suas opiniões com o Governo Federal, quando aconteceram problemas com os controladores de vôo gerando atrasos e cancelamentos nos aeroportos. Já quando os problemas vieram de uma companhia de aviação vender mais passagens do que a capacidade que tinha de carregar passageiros, a veemência diminuiu.
Agora, quando uma cratera se abre às margens do rio Pinheiros, causada por um consórcio de empreiteiras, talvez isto explique também porquê a mídia cobra providências do Governo de São Paulo, e pouco das empreiteiras responsáveis pela obra, e também, porquê, como diz um dos textos do Paulo Henrique Amorim, o Jornal Nacional mostrou mais indignação com as fotos da montanha de dinheiro do dossiê anti-Serra, do que com o desastre.
Se o Governo erra, é mais fácil criticar, pois ele nunca corta verbas publicitárias das empresas de comunicação. E se por acaso viesse a cortar, se diria que é censura, autoritarismo, retaliação, politicagem, etc...