Bravatas
Editorial da Folha de São Paulo, de 03/08/2006, sobre o comportamento da classe política brasileira.
Dialética da bravata
DO PT no governo federal já se assistiu a todo o negativo do filme estrelado pelo partido quando esteve na oposição. O paradoxo foi tamanho que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a enunciar a curiosa dialética da bravata: "Quando a gente é de oposição, pode fazer bravata porque não vai poder executar nada mesmo. Quando você é governo, tem de fazer, e aí não cabe a bravata".
Curioso também tem sido assistir ao processo inverso, afetando a oposição que esteve no governo até 31 de dezembro de 2002. É de autoria do PFL e recebe apoio do PSDB uma emenda que pretende dar aumento de 16,7% a todos os aposentados, e não apenas aos que ganham salário mínimo. Tucanos e pefelistas, que compõem chapa para disputar a Presidência em outubro, decerto não têm nenhuma pretensão de que a sua proposta seja levada a sério, nem a termo.
Seria aumentar as despesas da Previdência em R$ 7 bilhões neste ano e mais R$ 10 bilhões no ano que vem, pouco importando aos defensores festivos da emenda qual seria o seu impacto no gasto público. Levada a sério, a proposta exigiria do candidato Geraldo Alckmin a explicitação do que pretende fazer no ano que vem, caso eleito, para dar conta desses custos extras.
O ex-governador paulista acusa Lula de promover uma "farra fiscal"; promete um "choque de gestão" para economizar dinheiro público e a redução da carga de tributos. Estará em maus lençóis se tiver de endossar o que a base parlamentar de sua candidatura propõe no Congresso.
De onde se extraem duas conclusões. A primeira é que tucanos, pefelistas e petistas, todos praticam a dialética da bravata. A segunda é que o Brasil carece de responsabilidade na política, seja no governo, seja na oposição.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0308200602.htm
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home